sábado, 15 de outubro de 2011

We get on

"Simply knowing you exist
Ain't good enough for me
But asking for your telephone number
Seems highly inappropriate"

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A sensação de boiar

"Boiar não é muito legal? A sensação de boiar é maravilhosa!"


Eu nunca fui muito boa com esse negócio de intuição. E isso pode ser atestado com coisas simples. Desde pequena e até hoje, sempre que faço uma prova de múltipla escolha, acerto apenas as respostas que sei. Erro todas, todas, todas as que chuto.

- É porque você racionaliza - diz minha mãe.

E como não racionalizar? A gente não tem motivos pra tomar decisões? A gente não se baseia em algo? Como faz pra sair à deriva, aceitando o que vier e deixando-se bater no que encontrar? E, de forma mais prática, se racionalizar é o que vem de forma natural a você, como evitar fazê-lo?

Minha mãe diz que é que nem boiar. Que você não sabe bem como, mas vai lá e bóia.

Minha mãe não sabe nadar, mas bóia que é uma beleza. Minha mãe, aliás, tem também intuições fortíssimas. Não vou dizer que ela sempre sabe o que vai acontecer. Mas às vezes ela simplesmente sabe. Ela sente alguma coisa, uma certeza calma, ela diz, e aí a coisa vai lá e acontece. Sempre invejei um pouco isso. Sempre quis isso na minha vida. Mas será que não tenho mesmo? Ou só ignoro o que tenho?

Teve o dia que perdi meu casaco. Coisa boba, mas vale de exemplo. Eu estava arrumando minhas coisas depois da minha última aula no Skill, quando peguei meu casaco pra pôr dentro da mochila. Parei e pensei: "Não vou botar dentro da mochila, porque vai ficar um trombolho nas costas" e saí de sala com o casaco na mão -- para depois esquecê-lo dentro do táxi e dar início à saga que muitos acompanharam pelo Facebook.

Por que não segui o instinto? Pegar o casaco para colocá-lo dentro da mochila foi a ação sem pensar. No momento em que racionalizei, ignorei a tal da intuição e perdi o troço.

Mas será que a vida é isso, então? Não pode ser. Não acredito que a vida seja agir sem pensar. Muita gente age sem pensar e só faz um monte de besteira. Eu penso, eu raciocino e racionalizo porque eu analiso as possibilidade e faço uma escolha quanto ao que considero melhor. E me saio bem com frequência. Mas o que difere, então, essas vezes em que eu racionalizo e me dou bem das vezes em que eu ignoro meu primeiro instinto e me dou mal?

Eu realmente não sei quando se deve boiar. Mas tenho acreditado que a regra é essa. E a exceção é parar pra pensar. Quantas coisas já deixei de experienciar por pensar demais? Quantas coisas já deixei de aproveitar pelo mesmo motivo?

Eu sempre tive uma certeza em mim de que, não importa quantas voltas eu desse, quantas vezes eu quebrasse a cara, em quantas desilusões eu me metesse, quantas coisas dessem errado pra mim, eu ficaria bem. Eu sempre soube que eu ficaria bem. E a beleza de quando você sabe que vai dar tudo certo é que você se permite viver de tudo que tiver vontade. E acha que quebrar a cara vale a pena só pela experiência, só pelas emoções que sente. Só que, em algum momento, lá pro ano de 2007, eu perdi isso. Perdi essa fé. E, na época, até escrevi isso aqui: Lento.

Eu sei quais foram os milagres que perdi, que me fizeram, enfim, perder a fé naquela época. Mas não sei o que foi que aconteceu que me fez recuperá-la recentemente.

Sim, eu recuperei aquele otimismo, diga-se, que eu sentia antes. Aquela noção de que tudo vai ficar bem, aconteça o que acontecer. Há meses atrás, eu chamaria isso de idiotice de gente que não encara a realidade. Mas quer saber? Encarar a realidade é um exercício racional que pouco traz de bom e que só deveria ser praticado em situações específicas. Encarar a realidade dessa forma é, na maior parte do tempo, um saco. E a sensação de boiar, ao contrário, é ma-ra-vi-lho-sa.