sábado, 15 de outubro de 2011

We get on

"Simply knowing you exist
Ain't good enough for me
But asking for your telephone number
Seems highly inappropriate"

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A sensação de boiar

"Boiar não é muito legal? A sensação de boiar é maravilhosa!"


Eu nunca fui muito boa com esse negócio de intuição. E isso pode ser atestado com coisas simples. Desde pequena e até hoje, sempre que faço uma prova de múltipla escolha, acerto apenas as respostas que sei. Erro todas, todas, todas as que chuto.

- É porque você racionaliza - diz minha mãe.

E como não racionalizar? A gente não tem motivos pra tomar decisões? A gente não se baseia em algo? Como faz pra sair à deriva, aceitando o que vier e deixando-se bater no que encontrar? E, de forma mais prática, se racionalizar é o que vem de forma natural a você, como evitar fazê-lo?

Minha mãe diz que é que nem boiar. Que você não sabe bem como, mas vai lá e bóia.

Minha mãe não sabe nadar, mas bóia que é uma beleza. Minha mãe, aliás, tem também intuições fortíssimas. Não vou dizer que ela sempre sabe o que vai acontecer. Mas às vezes ela simplesmente sabe. Ela sente alguma coisa, uma certeza calma, ela diz, e aí a coisa vai lá e acontece. Sempre invejei um pouco isso. Sempre quis isso na minha vida. Mas será que não tenho mesmo? Ou só ignoro o que tenho?

Teve o dia que perdi meu casaco. Coisa boba, mas vale de exemplo. Eu estava arrumando minhas coisas depois da minha última aula no Skill, quando peguei meu casaco pra pôr dentro da mochila. Parei e pensei: "Não vou botar dentro da mochila, porque vai ficar um trombolho nas costas" e saí de sala com o casaco na mão -- para depois esquecê-lo dentro do táxi e dar início à saga que muitos acompanharam pelo Facebook.

Por que não segui o instinto? Pegar o casaco para colocá-lo dentro da mochila foi a ação sem pensar. No momento em que racionalizei, ignorei a tal da intuição e perdi o troço.

Mas será que a vida é isso, então? Não pode ser. Não acredito que a vida seja agir sem pensar. Muita gente age sem pensar e só faz um monte de besteira. Eu penso, eu raciocino e racionalizo porque eu analiso as possibilidade e faço uma escolha quanto ao que considero melhor. E me saio bem com frequência. Mas o que difere, então, essas vezes em que eu racionalizo e me dou bem das vezes em que eu ignoro meu primeiro instinto e me dou mal?

Eu realmente não sei quando se deve boiar. Mas tenho acreditado que a regra é essa. E a exceção é parar pra pensar. Quantas coisas já deixei de experienciar por pensar demais? Quantas coisas já deixei de aproveitar pelo mesmo motivo?

Eu sempre tive uma certeza em mim de que, não importa quantas voltas eu desse, quantas vezes eu quebrasse a cara, em quantas desilusões eu me metesse, quantas coisas dessem errado pra mim, eu ficaria bem. Eu sempre soube que eu ficaria bem. E a beleza de quando você sabe que vai dar tudo certo é que você se permite viver de tudo que tiver vontade. E acha que quebrar a cara vale a pena só pela experiência, só pelas emoções que sente. Só que, em algum momento, lá pro ano de 2007, eu perdi isso. Perdi essa fé. E, na época, até escrevi isso aqui: Lento.

Eu sei quais foram os milagres que perdi, que me fizeram, enfim, perder a fé naquela época. Mas não sei o que foi que aconteceu que me fez recuperá-la recentemente.

Sim, eu recuperei aquele otimismo, diga-se, que eu sentia antes. Aquela noção de que tudo vai ficar bem, aconteça o que acontecer. Há meses atrás, eu chamaria isso de idiotice de gente que não encara a realidade. Mas quer saber? Encarar a realidade é um exercício racional que pouco traz de bom e que só deveria ser praticado em situações específicas. Encarar a realidade dessa forma é, na maior parte do tempo, um saco. E a sensação de boiar, ao contrário, é ma-ra-vi-lho-sa.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

O anel roxo

Na feirinha, paro na barraquinha e experimento um anel feito de botão. Roxo. A moça da barraquinha fala:

- É de botão.
- É, eu gostei dele, porque eu quebrei um anel roxo e tô procurando um pra substituir.
- Então ele achou a dona!
- Pô, eu usava um anel roxo de plástico desde a oitava série. Ele quebrou tem uns dois meses, eu tô me sentindo nua. Faz muita falta.
- Você não acha que ele já não passou por muita coisa?
- Acho que é isso, né, esses anos todos...
- Eu tinha uma bota, que eu usava tanto, que ela já sabia tudo sobre a minha vida.
- Tava lá presente em todos os momentos, né?
- É, aí eu achei melhor me desfazer, porque ela sabia tanto sobre mim, que sei lá, né, vai que ela resolvia contar pra todo mundo.
- Você tem toda razão.

E comprei três anéis pro mesmo dedo.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Control freak ou As Ostras

A idéia não era ficar esse tempo todo sem escrever, sem postar. Mas é de fato muito mais fácil vir aqui escrever quando estou com a cabeça de cabeça pra baixo do que quando estou vivendo a vida atarefada, sem tempo de lidar comigo mesma. É muito mais fácil parar pra escrever quando eu sei que não dá pra ir deitar e dormir.

Eu tenho pensado muito no fato de que eu falo muito e que talvez o meu muito seja demais. Passei 2010 (e acho que 2009 também) debatendo sobre o silêncio. O quanto me incomodou ficar sem falar sobre as coisas, o quanto me fez mal engolir sentimentos e pensamentos por não poder falar pra determinadas pessoas ou não poder escrever em lugares públicos. E aí, não sei como aconteceu, mas parece que, em algum momento, eu voltei a falar. E estou começando a lembrar do lado negativo disso.

Eu não sou uma ostra. Eu dou minha opinião pra tudo, mesmo quando não me pedem. Costumo perceber, eu acho, quando estou sendo inconveniente, mas no geral, sempre tenho algo a manifestar e assim o faço. "It's like as soon as I have an opinion, it just has to come out", já dizia Kate Nash. E isso causa um problema porque, pelo o que eu venho reparado, empiricamente, as outras pessoas não são assim. As pessoas não falam o que pensam espontaneamente, se intimidam por eu fazê-lo tão incisivamente (ainda que eu não tenho intenção de convencer ninguém) e as pessoas não sabem dizer não. As pessoas são ostrinhas, fechadinhas em suas conchas. E acabam aceitando o que eu falo. E aí eu fico me sentindo a maior controladora do mundo. Manipuladora, até. E não gosto disso. Não gosto de me ver assim, mas também não gosto que as pessoas sejam ostras, que não se dão o direito de bater de frente comigo, de discordar, de expor a opinião também. E aí acaba ficando cômodo, não é mesmo? Eu faço tudo o que quero e, ao mesmo tempo, vou perdendo o respeito pelos outros, por se comportarem como ostras. Não consigo gostar de ostras, não consigo respeitar gente que não se impõe, que acata tudo pacificamente.

E aí, quando lido com alguém assim mais parecido comigo, sinto um certo alívio e penso em como seria bom ser rodeada de mais gente parecida comigo. Só que esse pensamento dura dois segundos. Na verdade, seria péssimo viver rodeada de mais gente parecida comigo. Seria uma disputa de tiranos instransigentes, batendo de frente o tempo todo, sem nunca chegar a um acordo. Ah, é claro, alguém sempre pode ceder. Mas é tão mais legal não ceder e fazer sempre o que se quer, não é mesmo? Ok, não falo por mal. O que eu quero dizer é: todo mundo quer fazer o que quer. Óbvio até aqui. Ceder não é legal pra ninguém e, pelo visto, o que me diferencia das outras pessoas, é que eu me disponho com menos frequência a ceder. E, ao mesmo tempo em que isso me faz sentir uma pessoa horrível, fico pensando: e qual é o problema? Porque toda vez que converso com uma ostra, ou simplesmente com uma pessoa que cede mais, mesmo não sendo uma ostra, vejo que a pessoa também não está feliz cedendo. E aí por que cede? Ah, claro, porque você é uma pessoa muito mais gostável se você cede mais às coisas.

O mundo prefere as ostras. E eu sou uma ornitorrinca horrível, porque sou sincera demais e aí me exponho demais, inclusive as partes horrendas (como essa, não é mesmo?) e vou me tornando menos e menos gostável. Porque gostáveis são as ostras, quietinhas e submissas. E eu as acho ridículas por serem assim. Só que, pelo visto, eu ainda tenho muito a aprender com elas. Não que eu precise me transformar em uma ostra. Mas tem que haver um meio termo. Um meio termo em que eu não seja a pessoa que faz tudo por todo mundo, mas também não seja a mais egoísta e controladora do mundo. Meta 2011.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Dog freak

Tenho estado obcecada, completamente obcecada, por cachorros. Desde que minha mãe viajou e eu tive que ficar sozinha com a Lindinha, reparando em como ela está cada vez mais caquética, fui tomada por total desespero em relação ao fato de que ela vai morrer a qualquer momento. E, pensando na falta que vou sentir dela, só consigo pensar em ter outro cachorro. E não só por isso, na verdade. Todo o instinto materno que eu não tenho para crianças está se desenvolvendo em relação a cachorros. Quero um pra cuidar, pra dar comida, dar banho, pra fazer e receber festinha quando eu chegar em casa. Quero amar e ser amada, ora veja só.

Meu primeiro cachorro foi a Sasha, uma boxer malhada lindíssima. Eu tinha quatro anos quando meu pai chegou em casa com ela, então pouco me lembro de como ela entrou em nossas vidas. Pra mim, a Sasha era algo que sempre esteve lá. Sasha ficava no canil, em uma parte do quintal e, às vezes, solta no quintal, mas muito de vez em quando. Só em grandes momentos de reunião de família e felicidade que a Sasha ficava solta e ganhava permissão pra entrar na cozinha. E aí, pra sair, ela fazia a coisa mais engraçada do mundo: fingia que não ouvia. A gente falava: “Sasha, lá fora!” e ela olhava pros lados, disfarçando.

Quando eu tinha sete anos, veio a Lindinha. Não foi planejada, foi presente da tia, sem qualquer aviso prévio. Eu, com sete anos, amei receber um filhotinho de poodle no colo. E o irmão dela, Thor, foi presente pro meu primo. Meu tio que escolheu os dois disse que escolheu o Thor por ele ser o mais oferecido e simpático e, a Lindinha, por ela ser a mais antipática e medrosa. Ele sempre contava como a Lindinha se escondeu atrás ou embaixo da geladeira quando ele foi pegar, que ele teve que se abaixar e esticar bem o braço pra conseguir levá-la. Anos se passaram e Lindinha sempre morreu de medo dele, toda vez que vinha aqui em casa. Fato é que Lindinha era tão linda que assim foi batizada. Lembro que, no primeiro dia, cheguei em casa super feliz com Lindinha no colo e fui mostrar pra Sasha. Sasha ficou LOUCA de felicidade, pulando alucinadamente dentro do canil e, Lindinha, enquanto isso, ficou desesperada de medo no meu colo e se mijou toda.

Ao contrário da Sasha, Lindinha foi criada dentro de casa, então acabou sendo muito mais próxima de todo mundo do que ela. Mas Lindinha sempre foi muito educada. Não subia no sofá sem ser convidada e, na cama, nem pensar. Quer dizer, às vezes chegávamos em casa e ela tinha dormido na cama ou no sofá, mas ela logo se entregava, se abaixando toda com cara de culpa. Muita engraçada. E o mais legal da Lindinha, na verdade, sempre foi a inteligência. Ela faz umas coisas que eu nunca vi outro cachorro fazer. Bem, hoje em dia, ela não faz quase nada, porque está velhinha, mas antigamente, fazia umas coisas tão... Lindinha! Como, por exemplo, quando estávamos em Iguaba e ela queria ir passear. Ela pegava a coleira e levava até nós e ficava balançando a coleira na nossa frente pra podermos pôr a coleira nela e sairmos. Mas o mais legal é que ela entendia que tinha que pôr a coleira, então, às vezes, jogava a própria coleira pra cima do corpo e vinha andando toda bonitinha, toda “tô pronta”, achando que era só jogar a coleira por cima do corpo que já dava pra ir pra rua.

Bem, voltemos à história dos cachorros. Em algum momento da vida, tivemos o Caco, um pastor alemão. Ele não era nosso, era da minha avó, e só cuidaríamos dele enquanto fosse filhote. Hoje em dia, acho isso um absurdo. Imagina que traumático deve ser pra um cachorro ser cuidado por uma família, na companhia de outros cachorros e, ao completar um ano, mudar completamente de ambiente. Tadinho do Caco. Ele era um amor. Caco se dava super bem com a Sasha e com a Lindinha, principalmente. Às vezes brincávamos com os três soltos no quintal e Caco, bizarramente, pegava Lindinha pelo pescoço e saía carregando. Lindinha, sendo um poodle micro toy, ficava parecendo o Simba filhote toda penduradinha na boca do Caco. Minhas lembranças dele são apenas essas: ele sendo um cachorro muito simpático, carregando Lindinha com a boca e resmungando. Caco, quando contrariado, pisava forte no chão e resmungava. Muito engraçado, muito fofo.

E aí, um dia, trouxemos um boxer amarelo pra cruzar com a Sasha. Ele era um boxer bem maior que ela e parecia mais sério e “cão de guarda” do que ela, que sempre foi muito bobona. Passou a tarde inteira lá no canil com ela, mas não (ou)vimos nada acontecer. Achamos que nada tivesse acontecido. E aí o tempo passou e, em uma madrugada de muita chuva, ouvimos Sasha chorando a noite toda e não sabíamos por que. Tadinha, nós, donos burros, não tínhamos percebido que ela estava grávida e pudemos fazer nada pra ajudar. Só sei que meu pai acordou no dia seguinte e Sasha estava no canil envolvendo um filhote macho, bonito, morto. Deve ter passado a noite inteira sentindo frio, tadinhos. Meu pai foi lá e pegou o bicho e voltou pra ver a Sasha, que estava muito mais protetora agora que meu pai tinha sumido com um filho dela. Mas aí que tinha outro, que meu pai não tinha visto antes. Era uma fêmea, branca com uma ou outra mancha malhada, e com um problema de coluna. Acabamos ficando com ela, Kika.

Kika era enorme, bem maior que a Sasha. As duas passaram a ficar na varanda e Kika cresceu dormindo no meio da Sasha e se recusava a perder esse hábito mesmo depois de crescer e ficar muito maior do que a Sasha. As duas ficavam no canil, às vezes eram convidadas a ficar na varanda, às vezes podiam até entrar na cozinha. Kika, na hora de ser expulsa da cozinha, era muito mais cínica do que a Sasha. Ela realmente fingia não ouvir, como se ficasse completamente surda naquele momento. Jogava o próprio peso todo no chão, deitava... No fim das contas, acabou que Kika foi muito mais paparicada do que a Sasha. Kika era bastante dominante em relação a ela (e a Lindinha, em relação às duas) e se metia na frente quando íamos fazer carinho na Sasha. Acho que acabamos nos diatanciando da Sasha, de certa forma.

Sasha morreu aos treze anos, sacrificada. Não fiquei tão triste quando aconteceu, era só estranho ter um cachorro a menos pra brincar quando ia lá no canil mexer com elas. Era muito pior vê-la como ficou nos últimos meses de vida. Sasha perdeu a força nas patas traseiras e mal conseguia ficar em pé; se arrastava pelo canil. E, Kika, mais forte e bruta, acabava derrubando a Sasha às vezes. Quando uma das pantas da frente começou a ficar fraca também, não tinha jeito. Ela estava super magra e fraca. Kika é que ficou muito deprimida sem a Sasha. Passou a ficar muito quieta e desanimada sem a companhia que tinha desde nascida, então passamos a deixá-la na varanda, no cantinho que ela tinha ficado quando era bebê e que sempre havia gostado. Acabamos ficando muito mais próximos da Kika, com isso, porque ela passou a ser criada solta no quintal e a entrar em casa toda vez que esquecíamos a porta da cozinha aberta.

Aliás, Kika dentro de casa era um show à parte. Ela subia para os quartos, mas não sabia, tinha medo de descer a escada depois. Tínhamos que conversar, fazer carinho, pôr coleira pra ir puxando e ainda oferecer queijo, pra conseguir fazer com que aquela cachorra descesse a escada. Uma vez, a porta da cozinha ficou destrancada de madrugada e ela subiu no meio da noite. Os quartos costumavam ficar trancados, então só descobrimos que ela estava dormindo no corredor quando acordamos de manhã. Tadinha, só queria companhia. A impressão que eu tenho é que o sonho da Kika era ser um cachorrinho do tamanho da Lindinha (que queria ser um super cachorrão).

Como eu disse, Kika nasceu com um problema de coluna. Não sentava apoiada nas patas como os outros cachorros. Apoiava o corpo, de um dos lados, então sempre sentava meio de lado e tinha um problema naquela pata. Fez pouco excercício físico, então o problema só piorou com o tempo. Kika morreu antes dos dez anos, muito magra, com fraqueza nas patas traseiras. Senti mais falta dela do que da Sasha, já que ela tinha passado a conviver mais próxima da gente do que ela. Mas também não foi nada tão traumático.

E aí ficou só a Lindinha, que vai fazer a maior falta do mundo. Lindinha está com quinze anos, saudável pra idade, com veterinária achando que ela vive mais uns dois anos, como muitos poodles toy. Mas Lindinha, hoje em dia, não pula, não sobe e desce escada, tropeça e escorrega com frequência, mal escuta e mal enxerga. Dorme bastante e só fica agitada quando quer comida ou quando Marinete, a diarista, está aqui em casa. É a única coisa que ainda faz Lindinha latir. Muito engraçado. A cachorra não faz um barulhinho a semana toda, chega sexta-feira, Marinete chega, Lindinha faz escândalo e depois rosna o dia inteiro. Lindinha operou câncer em dezembro, o que nos deixou, eu e minha mãe, muito tensas, cuidando dela basicamente vinte e quatro horas por dia, dando remédia de tudo que é tipo e dando leite e soro goela a baixo, porque ela não queria comer. E quando viajamos pra Argentinha em janeiro e tivemos que deixá-la por seis dias com o meu pai? Nossa, uma tristeza. Mas ela voltou gordinha, comendo ração outra vez e come aquela mesma ração até agora, amolecida no leite.

Lindinha, hoje em dia, não pode ficar sozinha, porque não come mais sozinha. Não adianta deixar a comida lá o dia inteiro, porque ela não come mais ração do jeito que vem. A ração precisa ser amolecida no leite. Além disso, se pusermos a ração sem mostrar pra ela que tem ração na vasilha, Lindinha não vê e não come. E toma remédio pro coração e pro fígado diariamente. Acho que ela agora está perdendo o olfato. Você põe a bolinha de queijo com o remédio na mão e ela demora pra encontrar o ponto exato da mão em que a bolinha está. E aí ela deixa cair um pedaço e tem dificuldade pra encontrá-lo no chão. Dá um peninha... E agora ela faz xixi e cocô em qualquer lugar: na cozinha, na sala, do lado do jornal, no próprio jornal. Nunca se sabe. Li que é normal pra cachorros idosos. E ela também passou a se perder na quintal em dias de sol. Como ela sempre gostou de pegar sol, deixávamos a porta da cozinha aberta, pra ela poder ir pro quintal, pra varanda, quando quisesse. Hoje em dia, temos que lembrar de fechar a porta, porque ela pega sol, fica esbaforida, se perde e não consegue voltar pra cozinha.

ENFIM, estou sofrendo por antecipação porque, a qualquer momento, acaba o prazo de validade de Lindinha. E aí estou pensando em adotar um outro cachorro, um próprio poodle provavelmente. Meu medo de ter outra poodle (só fêmeas, sempre) é ficar esperando que ela seja a Lindinha. Pensei em ter um maltês, mas todo aquele pêlo pra escovar... Fora que o poodle está em segundo lugar no ranking de inteligência de cachorros e o maltês é tipo o 59º. Então tudo me leva pra um poodle. Porque é claro que eu teria um labrador, mas não tem mais condição de ter um cachorro grande aqui em casa. O canil já era e, dentro de casa, não dá pra ter um cachorro grande. Não gosto de yorkshire o suficiente pra querer um e sei muito pouco do bichon frisé. Então, pelo visto, poodle it is. Tenho pesquisado raças e como cuidar como qualquer coisa feito louca em site sobre cães. Li até que uma forma de animar um cão idoso é trazer um filhote pra casa, mas não consigo imaginar Lindinha se animando por outro cachorro. Ela é extremamente ciumenta e antissocial. Então acho que seria sacanagem com ela arranjar outro cachorro agora. Outro cachorro, só quando não tiver mais Lindinha. Mas fiquem todos sabendo que estou ansiosa por um novo cachorro – mas não pela morte da Lili.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Sinais divinos do além

Eu sou incapaz de tomar uma decisão. Sério, pergunta se eu quero comer pizza ou batata do Beluga. Eu não vou conseguir decidir, nós discutiremos por horas os prós e contras de cada uma das opções.

Por causa dessa minha total incapacidade de tomar decisões, sempre contei com sinais divinos do além como uma ajuda. Por exemplo, se descer gente do próximo ônibus que passar nesse ponto, é porque eu devo ir. Ou, se eu abrir o Gmail e tiver um recado de mensagem do Facebook, é porque eu não devo fazer tal coisa. E por aí vai.

Então, vocês podem imaginar que, quando eu estava pensando em não ir ao show da Laura Marling por falta de companhia pra sair daqui do Rio e ir pra São Paulo e, de repente, apareceu outra Laura querendo ir junto, entendi que aquilo SÓ PODIA significar que OS COSMO quer que eu vá. E ficou tudo lindo.

Aí descobri que o festival começa às 15h, o que dificulta muito a minha vida. O cosmo também está confuso. O que fazer nesse caso?

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Garçons, restaurantes e por que voltar ou não

Eu vou começar o blog falando de garçons. Eu vou começar o blog falando sobre garçons por causa de duas experiências bem distintas que tive nesse final de semana. Acredito que metade da experiência em um restaurante se dá através do atendimento. A comida pode não ser lá essas coisas, mas você releva se o atendimento for bom. E é por isso que eu acho que o trabalho do garçom não se resume a servir comida; requer também uma boa dose de simpatia.

Sábado à noite, Joe e Leo’s de Botafogo, mesa com treze pessoas, conta que chegou a 700 reais. Uma das presentes era aniversariante, não do dia, mas da semana. Chamamos o garçom e avisamos que ela faz aniversário, queremos um brownie pra ela. Garçom é categórico e diz que só pode no dia do aniversário. Eu resolvo ser escrota e digo:

- No Outback, vale a semana toda.

Garçom, sem nada de humor, responde:

- Aqui não é o Outback.

Não respondi, mas pensei: claramente, aqui não é o Outback e, pelo visto, estaríamos todos muito mais satisfeitos se fosse. Infelizmente, aqui não é o Outback.

Um dos presentes argumentou que na Joe e Leo’s da Barra, o aniversariante ganha sobremesa na semana inteira do aniversário e que ele sabe disso porque comemora lá com a família todo ano, tradicionalmente. O garçom não dá muita bola e se limita a dizer que ali em Botafogo não é assim. Não quisemos nos estressar, afinal, não valia a pena. Mas isso me fez pensar bastante sobre como o atendimento é importante quando se vai a esses lugares. O problema não era não poder ganhar sobremesa fora do dia do aniversário, mas o fato de que o garçom nem tentou ser legal quanto a isso. Ele podia ter dito que ali no Joe e Leo’s de Botafogo não pode, mas que ele iria conferir com o gerente e ver se poderia liberar (afinal, éramos treze, com uma conta que daria 700 reais com os desmerecidos 12% -- sim, 12%, não 10%). Ele poderia ter incluído um “pô, foi mal” em algum lugar da resposta. Qualquer demonstração de educação ou qualquer tentativa de empatia teria sido valorizada. Até porque, ninguém quer se estressar, então somos fáceis.

(Só pra comentar que esse mesmo garçom, mais pro início da noite, se recusou a juntar tantas mesas sem que houvesse número X de pessoas e, quando mais uma mesa foi necessária, a que poderia juntar às nossas já estava ocupada por outras pessoas, o que fez com que ficássemos apertadinhos o resto da noite. Além disso, os pratos sujos nunca eram recolhidos. Embora o garçom voltasse à nossa mesa constantemente para anotar pedidos e outro viesse, repetidas vezes, trazer os pedidos, nenhum deles retirava a os pratos sujos empilhados ocupando espaço sem que nós tivéssemos que pedir.)

A conclusão da noite de sábado é que me diverti bastante graças à companhia, comi nachos gostosinhos, uma costela maravilhosa (melhor que a do Outback) com batata frita bem ruim e, de sobremesa, um brownie muito gostoso com sorvete de creme, chantily e macadâmia, mas tenho vontade zero de voltar lá, graças ao atendimento cocô que tivemos. Boa, Joe e Leo’s!

E aí, no domingo, fui ao Nova América e, na dúvida de onde comer, acabamos indo pra Parmê, que, convenhamos, não tem lá a melhor pizza do mundo. Gabriel, meu namorado, diz que o problema da Parmê é que todas as pizzas têm o mesmo gosto, mas pelo menos é um gosto bom constante.

Sentamos em um lugar meio afastado de onde estava cheio, o que logo nos fez ver que isso nos faria perder alguns sabores de pizza, pois os garçons esqueciam de passar pela nossa mesa. Eu queria muito comer aquela de camarão e catupiry e, quando vi uma saindo da cozinha, já preparei o prato para receber uma fatia. O garçom passou direto e foi para as duas mesas atrás de nós. A pizza acabou. Cutuquei o garçom e disse:

- Você nem trouxe a de camarão pra gente.

Ele se desculpou e disse que traria outra em pouco tempo. Parou de vir pizza por um tempinho, mas antes que eu pudesse reclamar, outro garçom veio até nós avisar que estava demorando, pois eles tinham acabado de pôr várias no forno, mas que já já sairiam vários sabores. Quando elas voltaram a vir, um terceiro garçom veio nos avisar que a de camarão que nós tínhamos pedido já estava saindo. E foi essa maravilha a noite toda. Eu pedia pizza de peperoni pra um garçom, outro vinha servir, outro vinha conferir se eu já tinha conseguido. Eu pedia pizza de brownie, ela vinha quase imediatamente e, quando saía a seguinte, o garçom perguntava se eu queria outra. Uma maravilha de atendimento. No fim da noite, quando fomos pagar, o senhor muito simpático que leva a maquininha até a mesa perguntou:

- E aí? Foi tudo do agrado de vocês? A comida tava boa? Os meninos atenderam vocês direitinho?

Aquele tipo de tratamento que te faz sentir o cliente mais especial e importante do mundo. E eu não acho que isso é bônus, isso faz parte do trabalho de um garçom e eu, se tivesse como funcionário o do Joe e Leo’s, o demitiria assim que soubesse de seu comportamento irresponsável. Paguei os 10% de atendimento na Parmê cheia de boa vontade que não tive no dia anterior.

É o mesmo caso dos restaurantes de comida japonesa que eu e Gabriel gostamos de ir. Na verdade, vamos sempre a um só: Konomi Ai, no Baixo Recreio. Não é o melhor sushi de salmão do mundo, mas tem um frango agridoce maravilhoso e um sei-lá-o-quê de banana com açúcar, canela e calda de caramelo que é um pedaço do céu. E tem um atendimento tranquilo. Um dia, Gabriel resolveu me levar no Sushi Mar, “o melhor restaturante japonês do Rio”. E a comida lá é realmente maravilhosa. Tem até sushi de haddock, um peixe carésimo que não tem em qualquer restaurante japonês por aí. O problema é que, em duas vezes que fomos lá, o atendimento foi horrível. Horrível mesmo, uma das piores experiências que já tive em um restaurante. O garçom parecia que atendia a gente com raiva, mau humor... A comida demorava horrores pra chegar, até que a gente nem queria mais comer. Demos outra chance e foi o mesmo problema. Então, nunca mais quis ir até lá. E só voltei lá quando tive que escolher entre ir lá ou ao Estrela do Sul do Recreio, que é outra história. Fui um dia com o Gabriel usando um cupom comprado no Peixe Urbano ou algo do tipo. E o fulano que veio nos receber assim que chegamos, que conhecia o Gabriel, não respondeu quando o Gabriel me apresentou. Logo em seguida, pedi uma água e ele, como não estava olhando pra mim, não ouviu ou sei lá o quê, e eu tive que pedir pro Gabriel pedir uma água pra mim, já que aquele garçom não se dirigia a mim de jeito nenhum. Deu vontade de fazer a louca e gritar um “É porque eu sou preta?” ou um “É porque eu tô de chinelo?” ou “É porque eu sou pobre e tô pagando com cupom de site de compra coletiva?”. A comida estava ótima, mas me senti tão mal lá que não quero voltar nunca mais.

Enfim, o combinado, semana passada, era ir ao Konomi Ai e pagar com o Ticket Refeição do Gabriel. Ficamos super frustrados quando o garçom disse que eles não aceitam TR lá. Como eu estava desarrumada depois de um dia inteiro de trabalho, não quis ir pro Estrela do Sul receber aqueles olhares que recebi da outra vez e ter que me esforçar pra conseguir uma garrafinha de água sem gás, então resolvemos ir ao Pizza & Pasta (que não tem mais esse nome, mas nunca lembro qual é o nome novo), mesmo não estando tão a fim de comer massa. Como o Pizza & Pasta fica na mesma “galeria” que o Sushi Mar, resolvemos ir lá dar uma nova chance, mais de um ano depois, e ver se valia a pena comer lá. E não é que valeu? Não sei se demos sorte ou se eles estão instruindo melhor os garçons, mas foi tudo muito satisfatório, de acordo com a comida, definitivamente melhor que a de qualquer outro restaurante japonês que conhecemos. Ainda estou receosa de voltar lá, mas pelo menos agora eu quero.

Ao Joe e Leo’s, não volto mais. E, semana que vem, vou lá pro Outback com meus ex-alunos da conversação me sentir a cliente mais especial do mundo e não me arrepender de dar gorjeta.