segunda-feira, 2 de maio de 2011

Dog freak

Tenho estado obcecada, completamente obcecada, por cachorros. Desde que minha mãe viajou e eu tive que ficar sozinha com a Lindinha, reparando em como ela está cada vez mais caquética, fui tomada por total desespero em relação ao fato de que ela vai morrer a qualquer momento. E, pensando na falta que vou sentir dela, só consigo pensar em ter outro cachorro. E não só por isso, na verdade. Todo o instinto materno que eu não tenho para crianças está se desenvolvendo em relação a cachorros. Quero um pra cuidar, pra dar comida, dar banho, pra fazer e receber festinha quando eu chegar em casa. Quero amar e ser amada, ora veja só.

Meu primeiro cachorro foi a Sasha, uma boxer malhada lindíssima. Eu tinha quatro anos quando meu pai chegou em casa com ela, então pouco me lembro de como ela entrou em nossas vidas. Pra mim, a Sasha era algo que sempre esteve lá. Sasha ficava no canil, em uma parte do quintal e, às vezes, solta no quintal, mas muito de vez em quando. Só em grandes momentos de reunião de família e felicidade que a Sasha ficava solta e ganhava permissão pra entrar na cozinha. E aí, pra sair, ela fazia a coisa mais engraçada do mundo: fingia que não ouvia. A gente falava: “Sasha, lá fora!” e ela olhava pros lados, disfarçando.

Quando eu tinha sete anos, veio a Lindinha. Não foi planejada, foi presente da tia, sem qualquer aviso prévio. Eu, com sete anos, amei receber um filhotinho de poodle no colo. E o irmão dela, Thor, foi presente pro meu primo. Meu tio que escolheu os dois disse que escolheu o Thor por ele ser o mais oferecido e simpático e, a Lindinha, por ela ser a mais antipática e medrosa. Ele sempre contava como a Lindinha se escondeu atrás ou embaixo da geladeira quando ele foi pegar, que ele teve que se abaixar e esticar bem o braço pra conseguir levá-la. Anos se passaram e Lindinha sempre morreu de medo dele, toda vez que vinha aqui em casa. Fato é que Lindinha era tão linda que assim foi batizada. Lembro que, no primeiro dia, cheguei em casa super feliz com Lindinha no colo e fui mostrar pra Sasha. Sasha ficou LOUCA de felicidade, pulando alucinadamente dentro do canil e, Lindinha, enquanto isso, ficou desesperada de medo no meu colo e se mijou toda.

Ao contrário da Sasha, Lindinha foi criada dentro de casa, então acabou sendo muito mais próxima de todo mundo do que ela. Mas Lindinha sempre foi muito educada. Não subia no sofá sem ser convidada e, na cama, nem pensar. Quer dizer, às vezes chegávamos em casa e ela tinha dormido na cama ou no sofá, mas ela logo se entregava, se abaixando toda com cara de culpa. Muita engraçada. E o mais legal da Lindinha, na verdade, sempre foi a inteligência. Ela faz umas coisas que eu nunca vi outro cachorro fazer. Bem, hoje em dia, ela não faz quase nada, porque está velhinha, mas antigamente, fazia umas coisas tão... Lindinha! Como, por exemplo, quando estávamos em Iguaba e ela queria ir passear. Ela pegava a coleira e levava até nós e ficava balançando a coleira na nossa frente pra podermos pôr a coleira nela e sairmos. Mas o mais legal é que ela entendia que tinha que pôr a coleira, então, às vezes, jogava a própria coleira pra cima do corpo e vinha andando toda bonitinha, toda “tô pronta”, achando que era só jogar a coleira por cima do corpo que já dava pra ir pra rua.

Bem, voltemos à história dos cachorros. Em algum momento da vida, tivemos o Caco, um pastor alemão. Ele não era nosso, era da minha avó, e só cuidaríamos dele enquanto fosse filhote. Hoje em dia, acho isso um absurdo. Imagina que traumático deve ser pra um cachorro ser cuidado por uma família, na companhia de outros cachorros e, ao completar um ano, mudar completamente de ambiente. Tadinho do Caco. Ele era um amor. Caco se dava super bem com a Sasha e com a Lindinha, principalmente. Às vezes brincávamos com os três soltos no quintal e Caco, bizarramente, pegava Lindinha pelo pescoço e saía carregando. Lindinha, sendo um poodle micro toy, ficava parecendo o Simba filhote toda penduradinha na boca do Caco. Minhas lembranças dele são apenas essas: ele sendo um cachorro muito simpático, carregando Lindinha com a boca e resmungando. Caco, quando contrariado, pisava forte no chão e resmungava. Muito engraçado, muito fofo.

E aí, um dia, trouxemos um boxer amarelo pra cruzar com a Sasha. Ele era um boxer bem maior que ela e parecia mais sério e “cão de guarda” do que ela, que sempre foi muito bobona. Passou a tarde inteira lá no canil com ela, mas não (ou)vimos nada acontecer. Achamos que nada tivesse acontecido. E aí o tempo passou e, em uma madrugada de muita chuva, ouvimos Sasha chorando a noite toda e não sabíamos por que. Tadinha, nós, donos burros, não tínhamos percebido que ela estava grávida e pudemos fazer nada pra ajudar. Só sei que meu pai acordou no dia seguinte e Sasha estava no canil envolvendo um filhote macho, bonito, morto. Deve ter passado a noite inteira sentindo frio, tadinhos. Meu pai foi lá e pegou o bicho e voltou pra ver a Sasha, que estava muito mais protetora agora que meu pai tinha sumido com um filho dela. Mas aí que tinha outro, que meu pai não tinha visto antes. Era uma fêmea, branca com uma ou outra mancha malhada, e com um problema de coluna. Acabamos ficando com ela, Kika.

Kika era enorme, bem maior que a Sasha. As duas passaram a ficar na varanda e Kika cresceu dormindo no meio da Sasha e se recusava a perder esse hábito mesmo depois de crescer e ficar muito maior do que a Sasha. As duas ficavam no canil, às vezes eram convidadas a ficar na varanda, às vezes podiam até entrar na cozinha. Kika, na hora de ser expulsa da cozinha, era muito mais cínica do que a Sasha. Ela realmente fingia não ouvir, como se ficasse completamente surda naquele momento. Jogava o próprio peso todo no chão, deitava... No fim das contas, acabou que Kika foi muito mais paparicada do que a Sasha. Kika era bastante dominante em relação a ela (e a Lindinha, em relação às duas) e se metia na frente quando íamos fazer carinho na Sasha. Acho que acabamos nos diatanciando da Sasha, de certa forma.

Sasha morreu aos treze anos, sacrificada. Não fiquei tão triste quando aconteceu, era só estranho ter um cachorro a menos pra brincar quando ia lá no canil mexer com elas. Era muito pior vê-la como ficou nos últimos meses de vida. Sasha perdeu a força nas patas traseiras e mal conseguia ficar em pé; se arrastava pelo canil. E, Kika, mais forte e bruta, acabava derrubando a Sasha às vezes. Quando uma das pantas da frente começou a ficar fraca também, não tinha jeito. Ela estava super magra e fraca. Kika é que ficou muito deprimida sem a Sasha. Passou a ficar muito quieta e desanimada sem a companhia que tinha desde nascida, então passamos a deixá-la na varanda, no cantinho que ela tinha ficado quando era bebê e que sempre havia gostado. Acabamos ficando muito mais próximos da Kika, com isso, porque ela passou a ser criada solta no quintal e a entrar em casa toda vez que esquecíamos a porta da cozinha aberta.

Aliás, Kika dentro de casa era um show à parte. Ela subia para os quartos, mas não sabia, tinha medo de descer a escada depois. Tínhamos que conversar, fazer carinho, pôr coleira pra ir puxando e ainda oferecer queijo, pra conseguir fazer com que aquela cachorra descesse a escada. Uma vez, a porta da cozinha ficou destrancada de madrugada e ela subiu no meio da noite. Os quartos costumavam ficar trancados, então só descobrimos que ela estava dormindo no corredor quando acordamos de manhã. Tadinha, só queria companhia. A impressão que eu tenho é que o sonho da Kika era ser um cachorrinho do tamanho da Lindinha (que queria ser um super cachorrão).

Como eu disse, Kika nasceu com um problema de coluna. Não sentava apoiada nas patas como os outros cachorros. Apoiava o corpo, de um dos lados, então sempre sentava meio de lado e tinha um problema naquela pata. Fez pouco excercício físico, então o problema só piorou com o tempo. Kika morreu antes dos dez anos, muito magra, com fraqueza nas patas traseiras. Senti mais falta dela do que da Sasha, já que ela tinha passado a conviver mais próxima da gente do que ela. Mas também não foi nada tão traumático.

E aí ficou só a Lindinha, que vai fazer a maior falta do mundo. Lindinha está com quinze anos, saudável pra idade, com veterinária achando que ela vive mais uns dois anos, como muitos poodles toy. Mas Lindinha, hoje em dia, não pula, não sobe e desce escada, tropeça e escorrega com frequência, mal escuta e mal enxerga. Dorme bastante e só fica agitada quando quer comida ou quando Marinete, a diarista, está aqui em casa. É a única coisa que ainda faz Lindinha latir. Muito engraçado. A cachorra não faz um barulhinho a semana toda, chega sexta-feira, Marinete chega, Lindinha faz escândalo e depois rosna o dia inteiro. Lindinha operou câncer em dezembro, o que nos deixou, eu e minha mãe, muito tensas, cuidando dela basicamente vinte e quatro horas por dia, dando remédia de tudo que é tipo e dando leite e soro goela a baixo, porque ela não queria comer. E quando viajamos pra Argentinha em janeiro e tivemos que deixá-la por seis dias com o meu pai? Nossa, uma tristeza. Mas ela voltou gordinha, comendo ração outra vez e come aquela mesma ração até agora, amolecida no leite.

Lindinha, hoje em dia, não pode ficar sozinha, porque não come mais sozinha. Não adianta deixar a comida lá o dia inteiro, porque ela não come mais ração do jeito que vem. A ração precisa ser amolecida no leite. Além disso, se pusermos a ração sem mostrar pra ela que tem ração na vasilha, Lindinha não vê e não come. E toma remédio pro coração e pro fígado diariamente. Acho que ela agora está perdendo o olfato. Você põe a bolinha de queijo com o remédio na mão e ela demora pra encontrar o ponto exato da mão em que a bolinha está. E aí ela deixa cair um pedaço e tem dificuldade pra encontrá-lo no chão. Dá um peninha... E agora ela faz xixi e cocô em qualquer lugar: na cozinha, na sala, do lado do jornal, no próprio jornal. Nunca se sabe. Li que é normal pra cachorros idosos. E ela também passou a se perder na quintal em dias de sol. Como ela sempre gostou de pegar sol, deixávamos a porta da cozinha aberta, pra ela poder ir pro quintal, pra varanda, quando quisesse. Hoje em dia, temos que lembrar de fechar a porta, porque ela pega sol, fica esbaforida, se perde e não consegue voltar pra cozinha.

ENFIM, estou sofrendo por antecipação porque, a qualquer momento, acaba o prazo de validade de Lindinha. E aí estou pensando em adotar um outro cachorro, um próprio poodle provavelmente. Meu medo de ter outra poodle (só fêmeas, sempre) é ficar esperando que ela seja a Lindinha. Pensei em ter um maltês, mas todo aquele pêlo pra escovar... Fora que o poodle está em segundo lugar no ranking de inteligência de cachorros e o maltês é tipo o 59º. Então tudo me leva pra um poodle. Porque é claro que eu teria um labrador, mas não tem mais condição de ter um cachorro grande aqui em casa. O canil já era e, dentro de casa, não dá pra ter um cachorro grande. Não gosto de yorkshire o suficiente pra querer um e sei muito pouco do bichon frisé. Então, pelo visto, poodle it is. Tenho pesquisado raças e como cuidar como qualquer coisa feito louca em site sobre cães. Li até que uma forma de animar um cão idoso é trazer um filhote pra casa, mas não consigo imaginar Lindinha se animando por outro cachorro. Ela é extremamente ciumenta e antissocial. Então acho que seria sacanagem com ela arranjar outro cachorro agora. Outro cachorro, só quando não tiver mais Lindinha. Mas fiquem todos sabendo que estou ansiosa por um novo cachorro – mas não pela morte da Lili.

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